terça-feira, 13 de março de 2012

Hoje.
Dias em que não suporto um sorriso.
Me agrada ver um mendigo vomitando e comendo de volta,
ou qualquer coisa que me anoje.

Ontem.
Roubaram-me a poesia,
fugiram com minha raiva e alegria,
mas estes ladrões não somem.

Amanhã.
Passo como se não passasse,
e que braço nenhum me abrace:
corpo em vão, mente vã.

Se o cego quer ajuda,
troco de calçada.
Também preciso atravessar algo,
mas ninguém me dá a mão pra nada.

Não tenho inveja, broto de arruda,
ou qualquer emoção desregrada.
Não planejo amor, não planto flor,
tampouco rego as já plantadas.

Semana que vem.
Que não venha, pois eu não vou também.
Passear é bom, mas é sozinho que gosto do trem.
Não sei mais te sentir,
e tu não fazeres sentido faz-me bem.

Semana passada.
Ou muito me engano,
ou interfonastes calada.
Ou eu estava sonhando,
ou tu estavas enganada.
Seja qual fosse o plano,
era a porta da pessoa errada.

Esta semana.
Vivo meu egoísmo com uma volúpia samaritana.
Se tem mais gente com fome,
eu escondo o cacho de banana.
Se tu chamares meu nome,
eu te direi que tu te engana.



Diorgi Giacomolli, Março de 2012.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Esse poema já foi postado no Facebook [http://www.facebook.com/profile.php?id=100000956174941] mês passado, e como tenho corrido mais que as pernas, não arranjei tempo para passá-lo para cá antes. OK, eu confesso que também não me havia lembrado. Esta pequena obra - "dramática demais", alguns diriam - foi concebida à beira de Puerto Madero, em Buenos Aires, no dia em que minha viagem acabava e eu estava a poucas horas de embarcar de volta pra casa. Em meio a letras caindo em um bloco de notas do celular e alguma água que não sei de que olhos saíam, eis:


É das catástrofes de mim que tiro todos de dentro,
os deixo, corro selvagem, fujo e nunca me afasto,
é dos trovões de mim que não posso evitar a briga,
é da pressa que agora invento a insônia...

É de um amanhecer no exterior que extraio
a minha falta de paz interior,
depois de passar pelas bebedeiras
que largam o silêncio para trás,
vejo que não tinha propósito mesmo,
e tudo o que quero é voltar e mais voltar,
e dizer que gosto mesmo de ser eu, do normal,
e que também preciso de amor,
ah, um amor, sim, eu também sou normal
e quero me acalmar...

Agora vem esse choro tão forte,
tão sem jeito, mas não tenho vergonha,
é exterior, eu nem estou completamente destruído,
e nem é tão tarde pra que eu já tenha perdido
tudo o que eu mais queria...

Eu me atrevi, então abusei, arrisquei tudo,
depois, em cima das pedras,
que os rostos todos eram dessinceros,
e eu só queria tirar o melhor,
fugindo um pouco do que é tão costumeiro,
mas eis que agora tudo me vem,
e era tudo mentira, sim,
eu também tenho sono, amigos,
mas não quer dizer,... nunca quer dizer...

É das barbáries de mim que me escondo,
saio rumo afora catando memórias adentro,
fazendo com os outros o que o livro faz
com quem os está lendo,
mas é dos cárceres de mim que me arrependo,
é por eles que me arrebento e afloro o mau humor...

É dos encarcerados em mim que quero me ver livre.

É dos escassos amores em mim que quero me livrar,
é o escarcéu abandonado de meu céu desamado
que preciso acabar...
Eu também sou jovem, estou desabado e preciso re-amar...


Diorgi Giacomolli, Janeiro de 2012.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Etcéteras Reveberantes

Bem. Há algum tempo parei de tirar fotos, há algum tempo não faço mais vídeos. As memórias que se vão criando à velocidade da luz me levaram a um ponto onde me encontro e de onde vejo que não há mais beijo que eu queira ou algo mais vivo do que a morte ligeira. Quer-se aquilo que se tinha com aquelas pessoas, mas não se quer aquelas pessoas, e só com elas se poderia, porém chega mais uma tarde de lua vazia, tudo é ex, e a mente se esvazia. Eles não vão te ajudar a trazer qualquer coisa de volta, e você nem mesmo quer qualquer volta. Então há o ódio que sentem por ti, esse ódio que não sentes de volta e não entende como lhe têm. Há algum tempo não olhava filmes nem lia livros, agora voltei. Mas não, os livros são outros, os filmes são novos, não há volta. Não há... Volta...


vago mundos por mundos vagos e insípidos,
como a nau sobre vagas de sonhos,
fico a me despir de toda lei inabdicável,
e tenho um muxoxo para cada centímetro
de vida terceira e desperdiçada...

as coisas todas me sobram, e à imagem da solidão,
vinda de um ombro escorado na poltrona ao lado,
tenho arrepios que dóem em meu vizinho...
Precisa-se obstaculizar imaginações,
ver-se na outra parte, dividir-se,
então tem-se toda a circunstância em mãos.

eu, que venho de largo, não sei de eu,
apenas esbanjo causticantes melodias
em forma de poesia egoísta e escorregadia,
sou o mau humor do sol por ser estrela...
esbarro nas praias sem pedir desculpas,
sinto o gélido toque das águas,
mas sou mais cadáver do que as marés,
morrendo justamente por estar morto,
e vivo é que sinto todas estas lamúrias...

para trás, satã! agora tudo fica pior,
melhor eu ir na frente, proteja-se como puder...
deus, me diga, sem que mentira se faça,
o destino diz pra eu lutar contra os fatos,
mas o que há além dessa praça?


Diorgi Giacomolli, 20 de Agosto de 2009.
fui esta tarde com tchaicovsky até um lugar mudo
onde ninguém se fingia de surdo,
uma vez que não tinha ninguém,
duas vezes fui lá por não ter alguém, e outra vez,
por estar vazio de qualquer pessoa do teu jaez

fui com tchaicovsky pela estrada,
de violino a tiracolo,
sem ninguém pesando em meu colo,
fui até aquele lugar sem palavras,
que estas cada vez me recuso mais a usar
em qualquer outro lugar,
que não seja no papel,

pois que nada mais presta na boca
a não ser o seu céu.

fui de mãos vazias ate lá com tchaikovsky,
pois quem levava o violoncelo era ele,
eu era o poeta que voltava,
vindo del cielo pela terra em serenata,
fazia sol, fazia um pouco mais que nada
do que uma solidão quase arrastada...

por isso fui de mãos dadas com tchaikovsky,
pois ele não falava,
e as palavras não eram usadas,
elas apenas me usavam para
nada que possa entender alguém de tua versão,
fui longe esta tarde, para um longinquo e calado verão...

vocês nunca verão...

com suas bocas mordidas,
suas apreciações por telas escondidas,
vocês não hão de ver
o lugar que esta tarde fui encher
de sons mudos, mudos de palavras absurdas...
e eu vi esta tarde com tchaikovsky...

vocês ficaram aqui com seus ternos,
eu fui com ele de chinelo e bermuda


Diorgi Giacomolli, Novembro de 2011.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vou atrás de muitos começos,
estes pontos cheios de magia,
pelos quais pago santos preços,
mas que valem todas as luxúrias do dia...

Persigo inícios como os fenícios queriam o mar,
como o ar quer a gravidade.

A gravidade disso tudo há de se agravar
ainda mais quando eu notar
que ainda estás aqui gravada...

Contudo,
saímos da sala e deixamos a tv ligada,
em um ato de ir ao banheiro e não mais voltar,
fizemos isso pela imundície da já insaciável ânsia de mijar,
e agora, aqui, mijados e sem bexiga que reste,
sentimos a infecção urinária se espalhando,
e voltamos à sala para nos contorcermos no sofá.

A dor passa,
a gente se abraça,
desliga a tv...

Só eu e você,
o silêncio que tem que ser,
sem importar o amanhecer...


Diorgi Giacomolli, Novembro de 2011.